II.
De olhos fechados
Sinto o frio tomar conta de mim
Me escapam as maravilhas
Desviam-se de mim os encantos
Me resta o assombro
de me ver por dentro
Me evito
enquanto posso
Desejo de não ver
Sei que no profundo de mim
guardo tesouros que, uma vez
descobertos,
me tornariam outra
Me tornariam eu
Estou em mim
Eu sou
Às vezes, se a superfície é tempestuosa,
um mergulho salva
Ao que parece, tesouros encobertos
fazem da sua vida o que ela é
mesmo que você se recuse a ver
(porque você se recusa a ver)
Mergulhar no obscuro mar de si mesmo
é a dor necessária
para o fim de um sofrimento prescindível
Submersa, testemunho o encontro
de algumas versões de mim
Paralisadas em seus graves instantes
Movimento
é do que a água precisa
E se tudo é água,
As partes de mim,
as coisas, as coisas
As vidas de toda gente
Movimento
é do que precisamos.