Vai ser preciso jogar algumas coisas fora
vai ser preciso desconhecer
Vai ser preciso ir no inferno algumas vezes mais
Vai ser preciso se acostumar com o barulho
e cortar as unhas
Talvez tenha que ir embora
mudar o cabelo
esquecer como se soletra amar
me desapaixonar pelo verbo,
talvez
Fingir que não é dor
para ter dor em paz
Dar permissão para errar em paz
e gostar de ter errado
e aceitar que a partir de agora o erro não se apaga
Vai ser preciso definir o que não vamos mais aceitar
vai ser preciso matar
e morrer
E mandar todo mundo se…
Vai ser preciso esquecer o eu
e não ter nada
não querer ser nada
e ainda ter todos os sonhos do mundo.
Poema inédito do meu livro Passarinha