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Textos
     Hoje pela manhã recebi uma notícia assim: “gente, vamos tomar cuidado, por favor! A amiga de uma amiga foi estuprada ontem…” Quando uma mulher recebe uma mensagem assim, mesmo que não conheça essa outra mulher, a dor é pungente. Amiga da amiga da amiga parece distante, né? Mas quanto tempo leva para chegar até mim? Quanto cuidado e que cuidado é esse que preciso ter para nunca chegar a minha vez? Realmente eu posso fazer algo? Porque a mina olhou para os lados, estava num estacionamento, mas o estuprador estava escondido, a abordou entrando no carro. A real é que eu não sei tomar cuidado, eu acho. Como é tomar cuidado? Será que fico em casa? Será que deixo de existir?
   Hoje pela manhã recebi uma notícia assim, mas a noite precisei sair andando sozinha, porque a vida continua.  Será que não fiquei com medo? Sim, como todo dia. A gente fica com medo e vai com medo mesmo, porque não não há lugar seguro para uma mulher. Ela pode estar em casa, mas sofrendo violência doméstica. Aí eu volto a te perguntar: como é que toma cuidado? Tenho muito interesse em uma resposta plausível. Mas esta, estou quase certa de que não existe. Porque sou mulher. Sempre vai haver um homem achando que tem direito sobre quem eu sou, sobre meu corpo, seja branco, negro, pardo, bem ou mal vestido. Bêbada na rua ou em minha própria casa. Eu tenho a porra de uma vagina e pronto! Oh que motivo bom para ser ninguém e merecer qualquer merda de tratamento.  
    Ai que dor! Ai que raiva!
Letícia de Queiroz
Enviado por Letícia de Queiroz em 18/05/2018
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