Volta e meia me pergunto isso de novo. Por que? Já inventei tanta resposta. Primeiro escrevia porque não gostava de falar e tinha nisso um refúgio, um subterfúgio, recurso único para me expressar. Depois escrevi para me conhecer, depois para amá-la, depois para me curar. Hoje em dia penso que escrevo porque as palavras me pedem: "transvejo a vida enquanto a palavra se apaixona por mim e o mundo cresce".
Eu não tenho controle, esses dias aqui Gisele disse "estaladiço" para falar do pastel de Belém depois de requentado e essa palavra ecoou tão forte. Ela me segurou nos ombros e ficou pedindo para ser anotada (como se eu fosse esquecê-la), relida, revista, ressignificada. Estaladiço, estaladiço, estaladiço. Eu me apaixonei pela palavra. Eu não sei ainda que texto vou construir ao redor dela, mas ela tá aqui pesando nos ombros desde então, aguardando o mundo crescer por causa dela.
Isso aqui é meu processo criativo, tatuei meu processo. Transver é ver com outros olhos, "olhos do coração", você talvez diria, mas eu não. Por que não os olhos dos dedos? Do calcanhar, dos cotovelos? Do próprio pelo? Coração também se acostuma a ver sempre as mesmas coisas.
Quando a palavra se apaixona, então posso inventar outros significados. Eu me apaixono por ela. E é assim que o mundo cresce. Não o mundo esse mundo. O mundo nosso, meu e dela. É como se com os dedos se arrastando no papel dêssemos um zoom e toda pequenez das coisas se agigantassem.
É nessa hora que te chamamos. Você aí mesmo, quem me lê. Te convidamos para um mergulho nesse instante curto que criamos escrevendo e torcemos para que ele tome algum vazio de ti.