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Meu Diário
14/02/2023 12h00
Sobre Escrita - Essa fabulosa instituição imaginária chamada “As Pessoas”

“Mas o que as pessoas vão pensar?” 

 

Você já repetiu essa frase pelo menos uma vez na vida. E com “uma vez” eu estou sendo muito gentil. Não é raro as nossas decisões terem que passar pelo crivo dessa fabulosa instituição chamada As Pessoas. 

 

Seja uma roupa, um corte de cabelo, um relacionamento, uma tatuagem, um emprego, uma viagem, um blog, um livro, um projeto, ficamos preocupados com o que vão pensar de nós, das nossas escolhas, dos nossos resultados. 

 

Mas quem são essas pessoas?

 

Em 2016 comecei um curso de palhaçaria em Brasília. Nossa professora era muito firme e cada uma das atividades, exercícios e apresentações que ela nos propunha ali tinham como objetivo trazer nosso palhaço interior à tona. Nem preciso dizer o quanto o processo foi difícil. 

 

No último encontro escolhemos figurino, a máscara (é como chamamos o nariz do palhaço) e fizemos apresentações de improviso. A professora estimulava a nossa imaginação e o público (os outros alunos da turma) avaliava nossa performance: riam ou não do que fazíamos ali no picadeiro.

 

Eu, tímida que era, quase saí correndo quando chegou a minha vez. E em um dado momento, já no picadeiro, a professora me pediu para fazer algo, acho que era cantar uma música e eu respondi que estava com vergonha. 

_ Por quê?

_ Porque tenho vergonha do que as pessoas vão pensar.

_ Que pessoas?

_ Todas as pessoas.

_ Bom, aqui não estão todas as pessoas. Quem é que vai se importar com o que você está fazendo aí?

 

Silêncio. Quem se importava? Eu tinha vergonha de quem? Quem são as pessoas que eu tinha vergonha de cantar na frente?

 

_ Minha mãe. Respondi.

_ Sua mãe não está aqui, então pode cantar.

 

Comecei a cantar Smells like teen spirit, do Nirvana. Ela pediu para cantar em chinês, em francês, e eu cantei também. Não que eu saiba chinês ou francês, mas a Flora, nome que foi dado á minha palhaça naquele dia, não ligava nenhum pouco para isso.

 

Contei tudo isso para chegar em dois pontos:

 

  1. Não existe “as pessoas”. Isso é a desculpa mais esfarrapada do mundo, uma fachada para esconder um medo. Acredite, as pessoas do mundo, da sua cidade, da faculdade, da rua não estão nem aí e caso estejam: como importa o que elas pensam?

 

  1. Geralmente a instituição “as pessoas” que vivem nos impedindo de ser autênticos, representam alguém (ou alguéns) que em algum momento foram nocivos para a sua autenticidade.


 

Até hoje eu estudo e reflito sobre como a minha família se comportou comigo e como eu interpretei esses comportamentos acabaram me tornando uma pessoa tímida durante muitos anos. Eu era uma criança obediente, quieta, “boazinha”. Sair desse papel me causava estranheza, então eu pensava “o que as pessoas vão pensar?”. Provavelmente um pensamento que me acompanha desde pequena para não fugir muito da ideia que eu tinha de que para ser amada deveria agradar. Um rasgo enorme na minha autenticidade que eu vivo para recuperar.


 

E o que isso tem a ver com escrita?

 

Muita gente ainda deixa de escrever e publicar com medo do que os outros vão pensar. Me fala, quem são as suas pessoas e como você pode encarar esse medo? É um medo real ou tem uma criança aí dentro que só quer explorar a própria criatividade? Será que agora o adulto que te poda é você mesmo? 


 

Publicado por Letícia de Queiroz
em 14/02/2023 às 12h00