Eu gosto quando escrevo como se pintasse um quadro abstrato. Revelando devagar as coisas sem nome que, antes que saibamos sobre elas, sabem sobre nós. Um misto de nada e tudo. Será nada se não houver atenção, mas basta uma demora, basta descansar o olhar e derramam-se questões impossíveis de fechar. Esse rasgo, essa fresta, esse chamado que só a poesia sabe. Abre, escancara, canta.
Eu gosto quando entro tão fundo em mim, quando mexo com tamanha maestria o caldo das coisas que eu não sei, que deixa de ser sobre mim. Eu sou a única coisa que sei, mas quando revelo que não sei… é nesse lugar que você me encontra. É gostoso quando você me lê e a gente se agarra sabendo que não sabemos nada. E é na falta de si que a gente se vê, se revela, se encanta.
Vislumbrar o que não se sabe acorda os corpos.